Axé!
Gosto muito de conversar com irmãos de outras casas religiosas e um tema, volta e meia, surge: codificação da umbanda. Estamos escrevendo muito sobre religiões afro-brasileiras, mas vamos nos voltar agora especificamente para o caso da umbanda.
Ao contrário de outros setores, alguns setores umbandistas (especificamente na região sul e sudeste do país) pleitearam uma codificação da religião ainda no século XX. Esse projeto faliu e quem diz isso é a história. Fica claro destacar dois motivos básicos.
Primeiro porque a diversidade umbandista é tão natural como a diversidade de um sítio sagrado. Por exemplo, a mata possui várias ervas, pássaros, cores, cheiros e sabores e nem por isso deixamos de entender a mata como uma unidade. É uma unidade que se expressa na diversidade. Não existem melhores ou piores nas várias escolas de umbanda, apenas caminhos diferentes que apontam para a mesma Espiritualidade.
O outro é de aspecto mais psicológico mesmo. O narcisista precisa que as coisas não sejam exatamente iguais para se colocar como melhor do que os demais. Ou seja, prega a codificação como uma tentativa de igualar tudo da "boca para fora", mas no fundo pensa que é privilegiado, superior aos demais. Afinal, ele (narcista) que criou o código. O problema é tanto grave, que acredita saber o que é melhor para todo mundo e impõe essa verdade por meio de códigos e cartilhas.
Contudo, este assunto não vem sendo debatido a pouco tempo. Pelo contrário, desde que entrei nas listas de discussão no início do século XXI, sempre esteve presente. Para não ir muito longe, retomo as recentes discussões sobre Filosofia das massas que nosso Mestre, Pai Rivas tem apresentado no Blog Espiritualidade e Ciência (http://sacerdotemedico.blogspot.com.br/).
A codificação na Umbanda exige a homogeneização e hegemonização. Ou seja, uma ideia, um conjunto de práticas religiosas únicas estabelecidas em código (homogeneizado) e alguém ou algum setor que defina para todos a sua regra, portanto colocando-se naturalmente como melhor que os demais (hegemonização). Essas duas chaves são essenciais para a alienação da sociedade. Transformando povo em massa, no nosso caso, povo de santo em massa de santo.
Mas queria entrar aqui no mérito prático disso. Imaginemos que algum grupo, por maior ou mais importante que seja, defina o código da Umbanda. No dia seguinte afixamos nos terreiros a regra e os pais e mães de santo serão obrigados a mudar a sua tradição? Foram ensinados, iniciados em uma forma de se ligar com o Orixá e por causa da vontade de um ou outro umbandista, mudará a sua forma de culto?!?!?!? E o Caboclo, o Exu, o Boiadeiro que baixava na gira de um jeito. Agora não vai poder mais? Então, antes, "Ele" (Ancestral, Guia-chefe, Mentor) fazia errado e agora vai fazer certo?!?!?
Outro caso clássico. Se normatizam que um terreiro tem atabaque, o que fazer com os terreiros que não usam? E, o contrário, se o código exige tirar o tambor. Quem tem, para de um dia para o outro?
Dei alguns exemplos, mas poderia dar muitos outros. De qualquer forma, precisamos estar atentos aos motivos reais dessa mobilização. Se estivermos felizes em nossos terreiros, por que mudar? Se estivermos insatisfeitos, podemos sair dele e procurar outro que esteja afim ao que quero acreditar e praticar. Por que impor um código e acabar com a diversidade umbandista, esta mesma diversidade que veio de cima para baixo.
Sim, veio do Astral para o terreiro. Afinal, Oxóssi não é Ogum, Oxalá não é Xangô, ou seja, são diferentes (diversidade). Mesmo assim, todos vivem em harmonia no Orun (unidade). Vamos nos espelhar em nossos Pais Espirituais? Axé!
Aranauan, Saravá, Axé,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)
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