sexta-feira, 12 de maio de 2017

LINHA E ARQUÉTIPO DOS PRETO VELHOS




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Ditado por Pai João de Angola

O balanço do navio ainda enjoava. Não sei o que mais enojava, se era o balanço do navio ou a visão mórbida de tantos corpos de meus confrades empilhados e já sem vida. Se o mau cheiro e a falta de espaço ou ainda os grilhões que nos prendiam.

Triste sorte, quem são estes animais hominídeos que nos amarravam, batia e subjugava.

Zâmbi estaria revoltado conosco? Ou os Orixás se esqueceram de seu povo?

Pensando assim é que muitos dos nossos não puderam se aproveitar da oportunidade em viver a escravidão. Processo este que se por um lado mancha a história da humanidade, por outro, “lavou a alma” de milhares de espíritos que na carne sentiu o gosto amargo da prestação de contas com o Criador.

Todos sabem que quando os africanos foram escravizados, a Igreja logo tratou de justificar isso, tirando nossa alma, assim fizeram com nossos irmãos indígenas. Claro, é mais fácil arrancar-lhe a alma ao ter que conviver com a consciência.

Não vou aqui estender aos interesses dos colonizadores ou acusa-los. Vou tentar mostrar o lado bom desta sangrenta moeda.

Acontece que na Mãe África as coisas não iam tão bem quanto parece nos contos. Nosso povo era bem desenvolvido, no entanto totalmente dirigido pelo mito, este que ditava nossas diretrizes ou nele é que justificávamos nossos atos. Atos estes nada bons.

É certo que o homem tem necessidade de conquista e expansão. Diferentemente dos índios, nos digladiávamos em busca de riquezas e poderio, o que é pior, justificando como vontade dos Orixás, foi assim que a tribo de Ogum, formado por homens geneticamente mais avantajados pontificou este Orixá como o Senhor das Guerras e da Milícia….

Neste sentido o povo africano estava se distanciando da vida natural ou da conservação da vida, não foi diferente com nossos irmãos ocidentais que jogaram a culpa em Jesus e saíram conquistando terras pela lâmina da espada, bem, mas isso é dívida deles.

Com a escravidão, nós tivemos a oportunidade de nos reconhecer como semelhantes, uma vez que a rincha em tribos era feroz. Subjugados tivemos tempo para pensar em nossos atos, fazer brotar a humildade, simplicidade, resignação e principalmente o amor á vida. Todavia, para os companheiros que chegaram nesta conclusão entendo que cumpriu com o propósito Divino, porém não foi simples assim, muitos outros milhares caíram no ódio, vingança e toda sorte de sentimentos contrários a evolução necessária.

Perdoar o seu algoz talvez seja a chave mais certa para a iluminação!

Sabedoria, eis o que simboliza a Linha dos Pretos Velhos, mas saiba leitor, esta sabedoria só existe pela vivência, por experiência, não se compra não se lê, simplesmente vive.

Humildade, sentimento este simples de entender. Se coloque como parte do meio que você vive. Ao invés de querer ser expoente, ou líder, ou coisa do tipo, procure somar, contribuir para solidificar. Veja o Brasil, a fama da construção deste país recai nos ombros dos Europeus que casa alguma teria erguido sem os braços negros do nosso povo. A meu ver mais vale o que é concreto do que é falácia.

Já no Astral o povo africano que tinha se redimido de seus débitos milenares, e já com a “alma lavada” foi convocado pelos Mestres da Luz a formar a linha de trabalho espiritual em auxílio dos encarnados, surge assim o Grau Preto Velho, onde se assentou os nativos africanos, que pontificava paralelamente com o grau Caboclo, enquanto os índios traziam a jovialidade, determinação e pureza natural, nós contribuiríamos com o culto aos Orixás, bem organizado. Com a experiência do ancião e a mandinga que cura e afasta todo mal.

Desta forma iniciava um entrosamento perfeito e renovado no Astral que sustenta tantos encarnados nas mais variadas religiões.
Assim é o arquétipo da linha dos africanos, baseado no ancião, no simples e sábio.
Estamos à disposição daqueles que apesar do coração oprimido ainda se permite acreditar sem perder a fé e a esperança, levar graça aos desgraçados, amor aos desiludidos.

Mantemos o rótulo do velho arcado, para que assim possamos nos aproximar dos amedrontados, pois se a primeira vista não apresentamos perigo, rapidamente sentam em nosso colo.



Somos os Pais Velhos, Preto Velho, Africano, Saravá o Orixá!

Nota do Autor: Finalizando este texto me lembro de um ponto que traduz esta linha “A Umbanda é linda pra quem sabe trabalhar quem não pode com mandinga não carrega patuá!”

Este relato apresenta claramente o que a escravidão significou para nossos irmãos africanos. Claro que não justifica nada, tampouco deve parecer uma concordância com este tenebroso passado, penso que a lição para nós é simples, pois este Preto Velho tenta nos mostrar que do mais pesado fardo, da mais profunda dor, do mais confuso tumulto é a oportunidade de tirarmos lições capazes de nos colocar em outro patamar evolutivo e amadurecer a alma, o coração.


Pense nisso!


Fonte: https://umbandaead.blog.br/2017/05/11/linha-e-arquetipo-dos-preto-velhos/

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Oxossi

No sudeste do Brasil, Oxossi é sincretizado a São Sebastião. Quanto ao sincretismo, a história informa que São Sebastião nasceu em Milão e foi oficial da guarda pretoriana em Roma. Foi cristão convicto e ativo e por esse motivo padeceu também sob o domínio do imperador Diocleciano. Denunciado como cristão, São Sebastião foi levado perante o imperador e confessou publicamente a sua fé em Jesus Cristo. Acusado de traição foi condenado a morte. Amarrado a um tronco teve seu corpo varado por flechas. No dia seguinte constataram que não havia morrido. Levado novamente frente a Diocleciano, reafirmou novamente a sua fé, o imperador mandou então açoitá-lo até a morte. Esse fato ocorreu por volta do ano 284.


Na Umbanda, Oxossi é conhecido como o senhor das matas e da grande maioria dos caboclos. Sua cor é o verde, representando as matas das quais é o senhor absoluto. No Candomblé é conhecido como o “caçador” ou o protetor dos caçadores. Na Umbanda também é conhecido como o caçador, mas não de animais e sim, de almas e de homens, sendo a catequese seu maior objetivo. No aspecto espiritual, se Ogum é conhecido por sua enorme força, ele, porém, é muito agressivo. Oxossi já é conhecido por aliar a força com o bom senso, essas características emanam de Oxossi que se manifesta nos trabalhos de Umbanda, principalmente na manifestação dos caboclos e suas falanges. De Oxossi emana a altivez que encoraja a todos os seguidores da Umbanda, transmitindo grande segurança aos seguidores de nossos cultos.

As matas são para o umbandista os domínios de Oxossi. A função vibratória das matas é afirmar ou dar resistência a trabalhos ou consolidar trabalhos e obrigações.




Os enviados de Oxossi ao nosso plano físico, são normalmente os caboclos, os índios de diversas nações de nossas matas e guerreiros africanos. Esses enviados são os grandes conhecedores dos grandes segredos (raramente revelados) que fazem curas, afastam influências negativas e protegem os seguidores da Umbanda.

A altivez do caboclo, a sua autoridade, a seriedade, a força, a coragem, a perseverança, o sentido de lutar para vencer, provém diretamente de Oxossi, pois essas são algumas de suas características.
Oxossi como Ogum, é um grande guerreiro, é um grande lutador, destemido, corajoso e sempre pronto para defender os seguidores da Umbanda ou aqueles que sob a sua guarda se colocam.
Nos trabalhos dirigidos unicamente por caboclos, nota-se a força e a altivez que emana de Oxossi. Quem o evoca e sob a sua proteção se coloca, jamais cai, fazendo valer o ditado umbandista:


“Filho de Umbanda (correto) não cai”


Nas obrigações a Oxossi, que devem forçosamente serem realizadas nas matas, podem ser utilizadas flores brancas, como cravos e lírios, velas verdes ou brancas, vinho tinto, água pura e frutas de toda espécie, porém repetimos: Orixás não comem e não bebem, mas se o seu coração pedir, faça, mas não deixe lá a garrafa, proteja a natureza, se acender velas proteja o local para não colocar fogo nas matas.



Cor ........................ Verde

Domínios ................As matas

Atuação ................. A catequese

Saudação ...............Oxossi é meu pai ou Okê arô Oxossi

Elemento ............... Terra




Os filhos de Oxóssi apresentam características do arquétipo atribuído ao Orixá. Representam o homem impondo sua marca sobre o mundo selvagem, nele intervindo para sobreviver, mas sem alterá-lo.

No positivo: São joviais, rápidos e espertos, mental e fisicamente. Cheios de iniciativa, dotados de um espírito curioso e observador, estão abertos a novas descobertas e novas atividades e são geralmente desbravadores, pioneiros. Têm grande capacidade de concentração e de atenção, firme determinação de alcançar seus objetivos e paciência para aguardar o momento correto para agir. Lidam bem com a realidade material, têm os pés ligados à terra, o que não quer dizer que sejam ambiciosos em demasia.

Possuem extrema sensibilidade, qualidades artísticas, criatividade e gosto apurado. Sua estrutura psíquica é emotiva e romântica. São discretos, não gostam de fazer julgamentos sobre os outros e respeitam muito o espaço individual de cada um.

Independentes, não apreciam muito os trabalhos em equipe. Mas têm grande senso de dever e de responsabilidade, principalmente em relação aos cuidados para com a família (pois o “caçador” tem a responsabilidade de sustentar a tribo).

Sentem a necessidade do silêncio para desenvolver a capacidade de observação, e neste aspecto, são reservados. Isso pode levá-los ao rompimento de laços, o que não quer dizer que sejam instáveis em seus amores.

Fisicamente, tendem a ser magros, um pouco nervosos, mas controlados.

No negativo: Tornam-se muito solitários, fechados, introvertidos, críticos, respondões, brigam por qualquer motivo e podem tornar-se vingativos.